segunda-feira, 4 de junho de 2012

Seca no Sertão do Nordeste do Brasil!

 Seca no Nordeste deixa mais de 500 cidades em situação de emergência

Falta de chuva secou rios, prejudicou lavouras e fez disparar o preço de alimentos. Em uma cidade do interior da Bahia, não chove há dois anos.
A seca na Região Nordeste já deixou mais de 500 cidades em situação de emergência. A falta de chuva secou rios, prejudicou as lavouras e fez disparar o preço de alimentos, como o milho e o feijão.
Animais famintos, sem ter o que comer. Na terra esturricada pela seca, não dá para plantar. O agricultor trabalha em vão. A água é suja, salgada e está cada vez mais distante. São poucos os reservatórios que ainda não secaram. O Rio Pajeú, no município de Floresta, um dos maiores rios do sertão, hoje é cenário de desolação.
“Era a água que servia para a gente fazer irrigação agrícola, pastagem de animais e todo o uso doméstico. Hoje, com a seca, a gente está em uma situação dessas”, conta o agricultor Florisvaldo de Souza.
Os números do Ministério da Integração Nacional divulgados neste sábado (5) revelam o mapa da escassez de chuva na região: 525 municípios do Nordeste estão em situação de emergência; outros 221 também sofrem os efeitos da estiagem e aguardam a avaliação da Secretaria Nacional de Defesa Civil. Na Paraíba, 171 cidades decretaram emergência, no Rio Grande do Norte, 139, e em Pernambuco, 45.
Na Bahia, a situação é mais grave, o estado de emergência já foi reconhecido em 232 municípios. Segundo a defesa civil do estado, esta é a pior seca dos últimos 47 anos. No município de Anagé não chove há dois anos. Agricultores estão perdendo as plantações e muitas famílias estão sem água para beber.
A seca no agreste e no sertão de Pernambuco já apresenta reflexos na Ceasa do Recife, o maior centro de abastecimento do estado. A queda na produção atinge o milho verde, um dos alimentos mais consumidos a partir do mês de maio até o São João. A quantidade de milho diminuiu e os preços já dispararam.
O preço quase dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. Hoje, a chamada mão de milho, com 50 espigas, é vendida por R$ 15. No ano passado? “Era de R$ 8 a R$ 10 a mão”, revela um vendedor.
Com o feijão não foi diferente. O preço subiu 100% em relação ao mesmo período do ano passado. O quilo passou de R$ 3 para R$ 6,20.

A edição desta quinta-feira (24) do Jornal Nacional começa com um trabalho coletivo de reportagem sobre um problema histórico do Brasil: a seca na região Nordeste, que prejudica milhões de cidadãos. Em 2012, a situação é a mais grave em quatro décadas.
A água de muitos reservatórios do sertão pernambucano está tão baixa que acaba se misturando ao lodo. Mesmo assim, é consumida.
"Está com gosto ruim, um gosto podre. A pessoa com sede acaba bebendo tudo o que não presta", fala uma moradora.
Quando o carro-pipa chega, dona Maria e a vila inteira disputam a água balde a balde. Um açude de São José do Belmonte tem capacidade para quase 2 bilhões de litros, mas a água que resta pode acabar nos próximos dias.
"Não chega mais a um mês. Nós estamos em uma situação de calamidade mesmo", alerta o secretário de Agricultura, José Pereira da Silva.

Em Dormentes, quase todo o município já é abastecido por carros-pipa. A água é escura, parece suja, mas é com ela que a família de seu Joaquim mata a sede.
"Eu nunca vi uma seca desse jeito", diz o homem.
Um açude abastecia a cidade de Cedro, que fica na divisa de Pernambuco com o Ceará. Parece que ainda tem muita água, mas o açude está com apenas 9% da capacidade e a água está contaminada, não serve mais para o consumo humano.
A contaminação é causada por uma alga, que libera substância tóxica. Quando o açude está cheio, não há problema, mas quando o nível está baixo, como a atual situação, a toxina se mistura à água e pode provocar doenças.
Uma régua especial mede a capacidade máxima. Uma tristeza para seu Edson Cavalcante, que tinha água no terreno do sítio.
"Com mais um metro de altura, ela atingia a calçada de minha casa. Agora ela sumiu toda, acabou", conta o agricultor.
Os moradores de Cedro passaram a receber água de poços artesianos, mas eles não são suficientes.
"A gente tem medo porque os poços estão secando e a gente está ficando sem água", declara a dona de casa Elizete Angeli Silva.
Em várias partes de Pernambuco, a seca também atinge a pecuária. Em uma das regiões mais prósperas do estado, uma imagem dramática: carcaças se multiplicam nos pastos da oitava maior bacia leiteira do país.
"Perdi umas 20 vacas e umas vinte e poucas rezes solteiras. Umas quarenta e poucas rezes, perdi”, contabiliza o pecuarista José Carlos Bezerra.
O pasto é só palha. A seca fez despencar pela metade a produção de leite, que chegava a 2 milhões de litros por dia.
“Eu costumava trazer 1.600, esta faixa. Agora está em 600, 700”, diz o produtor de leite José Ciara.
A venda do pouco leite mal dá para sustentar o rebanho.
“Estamos trabalhando de graça. Só para não morrer mesmo. Sustentando as bichinhas para não morrer de fome”, diz um homem.
Sem condições de criar o gado, onde não há pasto e nem água, alguns produtores foram buscar uma alternativa bem longe do agreste de Pernambuco. Quem pode está levando os animais para os estados do Maranhão e do Pará. Uma fuga demorada e cara.
Serão mais de 1.200 quilômetros e dois dias de viagem até o Maranhão. O frete custa R$ 5 mil.
“É uma alternativa cara, mas se a gente deixar aqui vai ser pior”, diz um pecuarista.
O gado só retornará quando as chuvas voltarem, mas em alguns casos, dependendo do acordo, o produtor só recebe de volta a metade dos bois. É uma forma de pagar ao fazendeiro que terá alimentado o rebanho durante a seca.
Mais de 9 mil animais já foram retirados do agreste de Pernambuco. Seu José mandou para oPará 18 vacas. Só ficou com um touro e um bezerro.
“Para mim é dor no coração”, diz ele.
A situação do rebanho também é grave no Rio Grande do Norte. Na região do Seridó, um cemitério de animais. Em grande parte já não há mais como levar o gado para outros pastos, como era feito no passado. É que hoje, o que resiste tem só pele e osso.
"Os animais aí andando, tudo pendendo com fome e sede e a gente sem ter o que fazer", descreve a produtora Ana Zulmira Diniz.
Em Caicó, há 83 anos não se via seca tão rigorosa. Praticamente não choveu em abril.
“De janeiro até agora em maio, a precipitação era de 132 milímetros. No mês de abril foi zero. E isso, pelo menos até aqui, é uma precipitação que você pode dizer sim que é uma precipitação de deserto", define o técnico da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) José Augusto Filho.
A seca também afeta diretamente a produção de caju no Rio Grande do Norte. O estado é um dos maiores produtores de castanha do país, mas, para manter a atividade, as grandes beneficiadoras estão tendo que importar o produto. Ou seja, os produtores agora também são importadores. Eles dizem que já adotaram a medida antes, para evitar a perda de clientes.
"No ano passado já trouxemos castanha da África e esse ano nós estamos trazendo mais 12 mil toneladas ou mais, dependendo do tamanho da safra que vai dar em 2012", conta o presidente da Usina de Beneficiamento de Castanha de Mossoró (Usibrás), Francisco de Assis Neto.
No estado, cerca de 50 mil toneladas de castanha eram produzidas por ano, quando as chuvas permitiam. A previsão é de que, em 2012, a produção fique em torno de dez mil toneladas.
Na maior empresa do Rio Grande do Norte, a capacidade de processamento foi reduzida em 40%. E a seca acaba afetando o emprego na região. Os diretores não revelam quantos trabalhadores foram demitidos em mais essa seca, mas o que ninguém esconde é o sofrimento que a falta de chuva impõe ao sertanejo. 

                                                                           Fonte: g1.globo.com/riograndedonorte

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